terça-feira, 21 de setembro de 2010

Serra D`Água


Sempre me questiono sobre o que é de fato a sustentabilidade dentro de uma propriedade rural. E neste aspecto tenho visto que nem sempre um selo de orgânico, aferido por uma certificadora, é sinônimo de sustentabilidade. Radicalismos à parte, o que importa mesmo é produzir alimentos saudáveis para o solo, agricultor e consumidor.
Por outro lado, na minha busca (só a filosofia explica) sobre meu papel no mundo, fico sonhando com a tal sustentabilidade. E por isso tenho uma curiosidade insaciável por conhecer modos de produção, propriedades e agricultores. E por estes caminhos de terra batida, vou encontrando meus exemplos, alguns, verdadeiros gurus!
E foi assim quando conheci a Fazenda Serra d` Água e seus proprietários Douglas e Patrícia. Uma propriedade de criação animal (bovinos, eqüinos, caprinos, ovinos, suínos, aves – galinhas e perus- e abelhas). Tem também pomar, capineira, um pequeno eucaliptal (lenha é essencial para casa e queijaria) e claro muita mata!
O manejo de tudo isso é muito interessante. Os animais vivem todos soltos durante o dia e a noite são reunidos no curral. Quando tem frutas o pomar é bem cercado para que cabras e ovelhas não comam tudo! No resto do ano são bem-vindas já que adubam muito bem o solo. Na capineira nenhum bicho entra, só o homem, mas ela recebe doses generosas de um blend de esterco de todas as espécies citadas acima.
Durante o ano a produtividade é bem variada. Uma época são as vacas dando leite, em outra são as cabras. Depois do inverno as ovelhas e carneiros são tosquiados e aí começa o trabalhoso ofício de produzir lãs, feito com esmero pela Patrícia, que aproveita toda a biodiversidade da fazenda na hora de tingir as meadas. No Natal sempre tem peru à mesa, e até alguns para vender. As galinhas até que trabalham bem, mas em geral no frio sempre dão uma parada.
A fazenda tem suas pastagens entrecortadas pela mata nativa. Os animais pastam livremente e recebem trato no cocho. Raramente adoecem, pois livres, podem seguir seus instintos e escolher a própria comida, tendo uma dieta mais balanceada.
A Fazenda Serra d`Água e seu proprietário Douglas fazem uma união próspera, ambos tem aptidão para este manejo que esta sendo feito. Formam um bom exemplo de um sistema agro-silvopastoril.
E a fazenda não tem luz! Fica em um cantão lindo do município de Alagoa. Claro, cabe a pergunta: nada vem de fora? Sim, algumas coisas: diesel, sal para os animais, milho para enriquecer a dieta dos animais, comida para variar o cardápio dos donos e um vinhozinho para aquecer as noites frias!

domingo, 12 de setembro de 2010

Pode a própria semente ser sua necessária terra?


Nossa experiência com agroecologia é bem diversa. O Boldo é de Fernando de Noronha (nascido e criado na ilha), neto de um agricultor tradicional, Seu Juvenal Veneno. Boldo desde pequeno esteve envolvido com criação de animais, plantações em mutirões e hortas domésticas. A Carovinha é filha de produtor rural do sudeste, médio criador de gado de leite e de corte, teve sua infância muito ligada a roça, mas sua cabeça foi feita mesmo ao viajar pelo Brasil filmando para o programa de TV “Brava Gente Brasileira” experiências em agroecologia. O estalo foi imediato, Carovinha foi fazer cursos na área e terminou por fazer uma pós-graduação em Agricultura Biodinâmica no Instituto Elo de Botucatu. Boldo sentiu que também tinha que buscar informação e foi fazer cursos de criação de caprinos, agrofloresta e até de doma racional de cavalos.
Sentimos então que estávamos prontos, decidimos mudar de vida e viver da terra. Abandonamos nossos empregos e começamos a manejar uma área de 8 hectares da Fazenda Floresta (do pai da Carovinha), isso foi no fim de 2005 e lá ficamos até o fim 2008 trabalhando com verduras, frutas e legumes diversos. Em 2009 paramos de plantar hortaliças e ficamos apenas manejando nossa Agrofloresta, junto com isso começamos a freqüentar Campo Redondo na Mantiqueira. Aqui conhecemos agricultores tradicionais que mexem com culturas de clima temperado (alho, batata inglesa, ervilha...). Uma parte dos agricultores daqui já está organizada através da APRUCARE (Associação dos Produtores Rurais de Campo redondo). Tudo nos fascinou, sobretudo a comunidade, e para cá nos mudamos.
Atualmente, temos uma horta em parceria com Seu Otaíde e seu filho Flaviano. Aqui pudemos constatar que muitas técnicas que usamos na agroecologia eram desconhecidas ou foram esquecidas com a pressão que existe no campo para compra de insumos externos. Esta parceria está sendo uma saudável experiência, uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo em que aprendemos muito com Seu Otaide, estamos implantando novos hábitos: cobertura dos canteiros com palhagem, preparo e uso de biofertilizantes, utilização e armazenamento de sementes crioulas e muito mais.
Paralelamente a essas experiências mantemos o serviço de entrega domiciliar no Rio de Janeiro. Nosso critério ao montarmos nossa lista de produtos é oferecer comida produzida de forma limpa e justa, para isso formamos uma pequena rede de fornecedores, todos eles com a premissa básica de porteiras abertas!
Resumidamente tentamos explicar nossa experiência com produção de alimentos. Em breve postaremos aqui textos sobre outras experiências locais, como a dos criadores Douglas & Patrícia na Fazenda Serra D´Água.
Abraços!
OBS: o título deste texto é uma frase de Guimarães Rosa no livro "Ave Palavra"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Abelha Mandaçaia


No Brasil existem mais de 50 tipos de abelhas nativas melíferas, formam o grupo das melipônias. Neste grupo podemos destacar as subespécies: jataí, uruçu, tiúba e mandaçaia. Na Serra da Mantiqueira é comum encontrarmos as abelhas mandaçaia, que também ocorrem em outras regiões do país, principalmente no cerrado e na mata atlântica.
Estas abelhas não possuem ferrão e estabelecem suas colméias em ocos de pau. Seu mel é colhido apenas uma vez por ano e cada colméia produz em média 2 litros de mel. A produção de mel da mandaçaia em comparação com a produção das abelhas africanas ou italianas (grupo apis melíferas) é bem menor. No entanto, o mel da mandaçaia é reconhecido por suas propriedades antibacterianas. O mel de mandaçaia contém inibina uma substância natural que auxilia no tratamento de gastrite, doenças pulmonares, infecções nos olhos e inflamações em geral. O mel de mandaçaia é mais fluído, com alto teor de umidade, por isso deve ser mantido sob refrigeração, pois é mais suscetível a fermentação.
As abelhas nativas também são reconhecidas por sua importância ecológica, pois fazem a polinização de certas espécies vegetais, uma função específica que as abelhas apis melífera não são capazes de desempenhar.

Por que Boldo e Carovinha?


Boldo e Carovinha são duas plantas utilizadas no tingimento natural de lã, algodão, linho e outras fibras naturais.
Charles e Mariana (autores desse blog) formam um casal, que se ama, e que compartilha um projeto de vida, baseado na sustentabilidade. Produzimos alimentos de forma agroecológica e, para nos sustentar economicamente, comercializamos na cidade do Rio de Janeiro o fruto de nosso trabalho e de outros produtores agroecológicos.
Neste blog pretendemos dividir nossa experiência com práticas agroecológicas e também com assuntos relacionados a artesanato local e pensadores na área de agroecologia. Vamos também postar fotos para que nossos consumidores possam acompanhar a evolução das lavouras, colméias...
Acreditamos em um relacionamento transparente entre produtores e consumidores. Dessa forma, pedimos que este espaço também seja usado para trocarmos informações, participe!
Um abraço,
Mariana e Charles

OBS:as mãosinhas segurando a couve-flor são de nosso maior fruto!